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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Bairro do Rosário




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Ouro Preto, Anos 60


Durante a década de 60, o número 14 da Rua Gabriel Santos, no bairro do Rosário, foi residência da nossa família. Atualmente o sobrado agora tem o número 88 e é ocupado como república feminina, cujo nome é bem apropriado para o lugar - Sussego. Lindo imóvel colonial de esquina, de dois andares, com vista privilegiada. Acredito até que seja o único imóvel do conjunto histórico da cidade com um belo alpendre de piso decorado em azulejos hidráulicos, iguais aos que cobrem grande parte do piso da Igreja Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Mário, guardião zelador da igreja, o vigário que morou no sobrado antes de nós e de outros, resolveu trocar o piso da Igreja e, tendo uma boa sobra do material, aproveitou e decorou o alpendre com esta obra de arte.


Rua de Cima - foto de Luara Viana Athayde.
"Rua de Cima", era assim que ela era mais conhecida, por ser uma via em patamar suspenso à rua que ladeia a igreja. Ela era bem mais rústica do que na atualidade. Tinha calçamento com pedras irregulares entremeadas com grama, proporcionando uma atmosfera mais bucólica à paisagem, sendo único inconveniente para a maioria dos passantes, algumas poças d'água que se formavam em época de chuvas, mas para nós meninos era até muito divertido sair correndo e bater os pés bem no meio delas para molhar os colegas. Foi num dia chuvoso, com a rua repleta de poças, quando uma Station Wagon Ford 47, com motivos laterais em madeira, entrou na Rua de Cima buzinando e piscando as luzes freneticamente. Bolinha, o cachorrinho da Dona Luluta, proprietária da Escola de Comércio, que já era escandaloso de natureza, quase surtou de tanto latir para o monstro mecânico. A vizinhança apinhou-se nas janelas, curiosa por tanto barulho provocado pelo potente motor de seis cilindros da bela perua. Rogério Péret, que estava na varanda do chalé, rapidamente desceu para frente da casa. Fiz o mesmo.




— É meu pai! — disse com euforia.
— E esse carrão? — perguntei.
— Compramos! — sorriu satisfeito.

Logo a família Péret inteira foi para rua, menos o João Marcos, irmão mais velho, que era muito sistemático. Até a Cristina, louríssima, lindíssima, inspiração inalcançável de todos nós, também apareceu para ver. Não sabíamos se olhávamos para Cristina ou para a Perua vindo aos solavancos no calçamento e espirrando água por todos os lados. O simpático senhor Jefferson Péret, comerciante relojoeiro tradicional em Ouro Preto, que mais parecia uma personagem destas de contos de fadas, empolgado, freou bruscamente aquela máquina potente, desceu do veículo e bateu no capô.

— Gostaram? — perguntou.

Quem havia de não gostar? Era o primeiro veículo da Rua de Cima, que eu me lembro. Além dele veio depois a Rural Willys do Senhor Vicente Godoy, pai do nosso amigo Vinício. Comprou zero km! Não era para qualquer bico e acreditem ou não, ele aprendeu a dirigi-la na estreita Rua de Cima mesmo, indo e vindo repetidamente, arriscando-se nas manobras em frente à minha casa, e ao trocar as marchas a ré para manobrar, passava muito perto de despencar-se uns três metros abaixo no quintal dos Péret. 

Ilustrativo da Rural Wyllys da família Godoy.
Era grande novidade aquela rural verde e branco, de beleza reluzente com linhas arrojadas! Havia também um carro bege que ficava sempre estacionado na entrada da rua, marca Fissore, e que jamais o vi mover-se. Fora estes, havia o Aero Willys Itamaraty do Senhor Domício, usado como Taxi, o mais moderno carro de Ouro Preto. Fazia concorrência aos Chevrolets 48, verdes, do Padre Rocha, também usados como taxi, sempre estacionados ao lado da Casa dos Contos. Somando esta frota tinha o encantador jeep de guerra, ano 51 do senhor Abeylard e a Vemaguete do Padre Mendes, esta última, muito barulhenta, que pipocava o motor e espirrava para subir as ladeiras com seus dois cilindros de potência em motor de dois tempos.


Início dos ano 60, família do autor, de bermuda preta, de frente ao sobrado na Rua de Cima.
A pacata Rua de Cima onde o maior trânsito era da tropa de burros de carga do Senhor Arlindo, uma vez por semana, nunca mais foi a mesma. Era a modernidade trazendo aquelas duas maravilhas motorizadas para nossa admiração, ao mesmo tempo medo, pois, quando víamos o Senhor Vicente chegando da Escola de Farmácia em seu bólido verdejante, logo subíamos na mureta da rua ou nas calçadas próximas das casas afim de nos protegermos. Na verdade, em Ouro Preto sobrava espaço e eram poucos os veículos transitando. 

A família Péret foi referência em muitas coisas que deram em mim o empurrão vocacional pelos rumos que escolhi e andei. Com certeza, Rogério, uns quatro anos mais velho do que eu, e meu vizinho de janela, foi responsável por influenciar-me nas atividades de aviação que segui depois que caí no mundo. 

 Marcinho, chega aí! — gritava Péret da varanda do chalé, toda vez que acabava de inventar alguma engenhoca. Eu me sentia privilegiado em ser o primeiro a ser compartilhado das ideias.

Quando ele chamava, eu já descia a escadaria de casa pulando de três em três degraus para ir mais rápido, pois alguma coisa de interessante ia me mostrar. Os chamados passaram a ser codificados com diversos tipos de assobio, cada um antecipando que tipo de evento estava por vir, ou apenas um simples chamado para ir para rua, e até sinal de algum perigo iminente. Com o tempo este código passou a ser adotado pela molecada inteira do bairro.
No porão do chalé dos Péret havia uma bela oficina, onde Rogério inventava um monte de traquitanas — de carrinhos para desembestarmos nas ladeiras, foguetes de brinquedo tentando imitar os então recentes inventados pela NASA, com estágios que se separavam na subida, aparato equipado com um mini paraquedas acoplado na cápsula espacial. Uma maravilha de brinquedo, impulsionado à pólvora, longe do meu alcance de fazer algo similar. Mas algum tempo depois arrisquei fazer alguns que viraram armas terríveis, totalmente descontroladas, levando muito perigo às pessoas, em particular para o Senhor Schweber, o alemão que achávamos muito misterioso, sempre apoiado na sua bengala, com chapéu e terno impecáveis, e meu amigo Aloísio, morador defronte à igreja. Ambos foram testemunhas oculares e quase vítimas destes aparatos malucos, impulsionados à pólvora, em quantidades mal calculadas, socadas com cola goma arábica. Felizmente foram apenas sustos, com leves prejuízos de paredes estragadas, salas chamuscadas e cortinas queimadas.

O Rogério, não se misturava com a molecada. Era sério, compenetrado e já ajudava o pai na loja da Rua São José. Atualmente é um advogado dos ótimos! Mas na época, era também exibicionista com aquela bicicleta marrom aro 24, equipada com freio contra pedal, na qual ele sentava virado para trás e saía na carreira, desde a loja na Rua São José até a sua casa no Rosário. Quando não era de costas, vinha com sacolas na mão sem segurar no guidão. Era um craque, um malabarista, considerando que andar de bicicletas normalmente nas ruas de Ouro Preto não é uma tarefa fácil.
Com ele aprendi a jogar xadrez, construir aeromodelos, fazer zarabatanas, pipas gigantes, sendo que uma delas quase me matou. Andar de bicicleta, e até a primeira bola de capotão ele me deu. Bola velha, saindo os gomos em pelancas, mas foi um bem-vindo presente justamente em ano de Copa do Mundo no Chile. Dele também veio para mim um carrinho maravilhoso, muito bem construído, conseguido na base de troca da minha buzina à pilha, para prender no guidão de bicicleta. Com este carrinho eu e meus amigos arriscamos as nossas frágeis carcaças pelas ladeiras abaixo, inclusive na Rua da Escadinha onde conseguíamos uma velocidade incrível, com uma boa freada no final, arrastando as rodas até feder à borracha queimada. Mas o carrinho era tão bem idealizado e construído, com eixo traseiro, feixe de molas, direção reforçada, freio com lonas, rolamento embutido nas rodas bem revestidas com bandas de pneus, que nos dava segurança absoluta do que fazíamos, ou quase. Na época fiquei pensando porque o Rogério trocara comigo um tesouro de carrinho por uma mera buzina a pilha azul, que tinha um som rouco horroroso. Mais tarde fui perceber que aquele carrinho não era mais compatível com a idade do Péret. Mas ele poderia tê-lo vendido facilmente para outro, não para mim, pois dinheiro no meu bolso era uma raridade. Acredito até que se eu não tivesse lhe dado a buzina, o carrinho eu o ganharia de qualquer forma – uma herança de amigos.

O meu lado artístico também foi em grande parte influenciado pela família Péret, quando minha mãe tomou aulas de pintura com Dona Lígia, a matriarca daquela geração, uma figura carismática, que nós meninos apesar de não nos darmos bem com a maioria dos adultos do bairro, com ela tínhamos um imenso carinho. Passei então a fazer alguns desenhos a nanquim, os quais eu conseguia vendê-los aos turistas estrangeiros. Uma folha de papel, uns rabiscos lá de frente à igreja, ao vivo, o turista se admirava com a minha rapidez e comprava na base da emoção.

 How much? — quando não era inglês, era francês ou alemão. Eu, não entendendo, ele gesticulava a linguagem universal dos sinais, esfregando o polegar no indicador.  

Eu apenas levantava a mão cheia que significava cinco cruzeiros. Era muito bom, pois com aquele dinheiro poderia comprar todas as guloseimas na padaria do Seu Dico, bombinhas e até algumas gramas de pólvora no armazém do Senhor José Ribeiro para fazer uns foguetes.


Escritor e pensador Jean Paul Sartre no Largo do Rosário e os mestres da pintura Takaoka e Guinard.
Morar no Rosário era conviver com a história. Presenciávamos muitos famosos pelos arredores, entre os quais os mestres Guinard, Takaoka, inclusive o escritor e pensador mundialmente conhecido Jean Paul Sartre que diziam ter passado por lá — e passou. A gente caminhava e interagia com estas pessoas, na época sem nenhuma importância para nós, mas que agora a ficha da memória cai e percebemos o quanto éramos privilegiados.
  O Rosário era muito mais movimentado do que atualmente, tendo no adro atrás da igreja o campinho de terra batida, onde jogávamos bola quase todas as tardes. Era muito inconveniente, pois a bola estava quase sempre saindo por uma das laterais, despencando ladeira abaixo ou atrás dos muros nos quintais alheios. Havia um vizinho mal-humorado que parecia ficar esperando a bola ser chutada no quintal, pois, mal ela caía e ele a jogava de volta, furada e rasgada por algum objeto cortante. Comprar uma bola não era coisa fácil, ainda mais para nós que estávamos sempre lisos.

— Ah, seu desgraçado! — e mais um monte de adjetivos. Xingávamos todos os nomes possíveis.

Ele parecia esperar, se esbaldando com a nossa ira, pois, escutávamos as gargalhadas maldosas do maldito. Mas ele teve o que mereceu tempos mais tarde, em um episódio que será contado mais adiante.

Uma das marcações do gol ficava rente à parede de trás da Igreja do Rosário, que tinha os vidros das janelas constantemente quebrados. Padre Simões, que sempre estava na igreja, era figura ímpar e muito simpática. Ao invés de proibir as peladas, mandou colocar telas de proteção nos vidros. Algumas beatas reclamavam que a parede da igreja ficava completamente suja com as marcas das boladas, principalmente em dias de chuva. Uma vez ou outra ele ia ver a pelada, arriscando alguns chutes, levantando a batina para fazer isso. Era muito engraçado vê-lo todo desengonçado dando uma bicuda na bola. Parecia um urubu desajeitado, mas era nosso amigo. Tão amigo que até o Zé Pereira do Rosário, com seus tambores, taróis, adereços e fantasias, a diversão tão esperada nos carnavais, era todo guardado na parte de baixo da residência dele. Tinha o lado católico e certa tolerância com o profano, mesmo com a rigidez da igreja Católica. Padre Simões era de uma inteligência e cultura muito além dos padrões normais daquela época.

 Deixem os meninos, senhoras! Deus não se importa com esta sujeira do lado de fora. 

Ele tentava de todas as formas convencer Dona Luluta e Dona Anita, que eram maiores reclamantes entre tantas outras.

 Meninos! Moderem-se! Acho até bom vocês se empenharem a ajudar nas missas para melhorar a situação de vocês com os adultos do bairro. — ele nos convencia e esporadicamente éramos coroinhas nas missas de domingo, mas o sino... ah! O sino do Rosário! Este nos disputávamos em corridas pelas escadas acima em espiral até o alto, para ver quem tocaria o sino maior.

No adro da frente, antes com muita grama, jogávamos pente altas, brincávamos de pique esconde e o temido tico-tico fuzilado, este último jogo, responsável pelos hematomas nas costas dos meninos, muitos galos nas cabeças e alguns com cortes profundos. Era uma rotina perigosa e gostosa. Ninguém ficava dentro de casa preso entre quatro paredes como as crianças de hoje. O único dispositivo mais avançado pertencia ao Marco Antônio Maia, nosso amigo já falecido, dono de um rádio de pilha Evadim, com aquela longa antena, som que ia e vinha misturado com muito chiado. Mas era nele que escutávamos os campeonatos do Rio de Janeiro. Virei torcedor Vascaíno por influência dele e do Senhor Almir, um vizinho agradável que morava na parte de baixo do sobrado. As televisões preto e branco, sabíamos que tinha apenas na casa do Senhor Almir, na casa do Vinício Godoy e na casa do Marco Antônio. Máquina fotográfica, nem pensar, apenas o Márcio Guimarães, o Vitor, irmão do Vinício e outros poucos possuíam, por isso temos poucos registros da época. Bicicletas eram apenas duas; uma Caloi com quadro feminino, da família Godoy, e a minha linda MerckSwiss azul que meu padrinho me dera de presente. Deu porque comprara duas para os filhos dele e levou uma de quebra. Nem dormi na noite olhando para ela ao lado da minha cama. Lembro-me que tempos depois a troquei com um relógio que não funcionava - meu primeiro mau negócio antes de muitos outros. Nem preciso de consultar terapeuta para saber porque me dei mal em muitos negócios – está aí a explicação e a origem.

Ao lado de casa morava a família Santos Maia. Embaixo existia uma tipografia que funcionava o dia todo, com muito serviço. Senhor Ademar era o proprietário, tendo no estabelecimento um ajudante e um simpático impressor. Eu era bastante curioso e aquela arte de compor os tipos, cortar os papéis na guilhotina, imprimir e encadernar me fascinara. Foi um vírus da imprensa que entrou no meu inconsciente, despertado tempos depois me levando para os caminhos da publicidade, das artes e do jornalismo, área que atuei em grande parte da minha vida.

Geralmente estudávamos o primário no Grupo Escolar Dom Pedro II, o curso de admissão ao ginásio na Escola Marília de Dirceu e o ginásio no Colégio Arquidiocesano sob a chibata do Padre Carmélio, verdadeiro Coronel do comandante Padre Rocha. Nossas notas eram relativas ao nosso tempo de estudo em casa. As minhas principalmente, que sempre estavam numa mistura de muito vermelho e pouco azul. Na Escola Marília de Dirceu a coisa andava mais solta, com brechas que permitiam que matássemos muitas aulas, ou no Morro da Forca, ou no Pocinho, que naquela época era uma área rural, pois as casas terminavam na Barra, bem no início da subida para Bauxita. Depois que a escola contratou Seu Lampião para caçar os gazeteiros, passamos a matar as aulas no adro frontal da Igreja das Mercês de Baixo, pois lá de cima observávamos os movimentos do Seu Lampião saindo da escola afim de nos pegar — jamais conseguiu. E lá fumávamos três a quatro maços de cigarro Mistura Fina, um atrás do outro. Íamos para casa fedorentos de tanto tabaco, e a sova comia solta no lombo.

Nossas mães mal sabiam onde andávamos, coitadas. Imaginavam apenas que estivéssemos pelas redondezas da Igreja do Rosário. Na verdade, andávamos por todas as partes; morro do Areião, Cachoeira das Andorinhas, Pocinho, e até ir para Saramenha passando por cima de um cano, fazendo dele uma extensa pinguela, sobre uma lagoa de rejeitos industriais que fumegava de quente. Eram crianças que variavam na faixa etária entre sete e treze anos, que se ausentavam de suas casas por meio período para brincar, meio para frequentar a escola e depois do jantar as brincadeiras ainda avançavam noite adentro. 

Antigo Hotel Monteiro, onde ocupávamos algumas salas do segundo andar com nosso Clube.
Nosso lugar predileto era um clube que formamos numa das salas do segundo piso do velho casarão do Rosário, abandonado desde que o Hotel Monteiro fechara as portas. Lá moraram a família Fortes ocupando alguns cômodos do lado norte e, do outro lado, a família do Senhor Abeylard, um correspondente da Segunda Guerra Mundial, pai do Marco Aurélio, que tinha muitas histórias as quais escutávamos sem piscar. Enxergávamos o ex-combatente como verdadeiro herói e adorávamos quando nos carregava no seu jipe 51 pelas cercanias de Ouro Preto, até para caçar. Este clube era nosso QG e lá tudo guardávamos, ou mantínhamos em segredo aquilo que fazíamos de proibido, culminando certa vez em um episódio bem constrangedor, envolvendo o grande armazém do Senhor José Ribeiro, que merece um bom capítulo neste blog.

Tínhamos nossos amores, escondidos é claro, pelas meninas que amávamos platonicamente. Certamente também postarei aqui nossas musas da escola, e aquelas mais velhas que despertavam nossa libido. As amigas das nossas irmãs, achávamos lindas, sonhávamos com elas, mas nada mais do que sonhos. A minha musa na Escola Marília de Dirceu chamava-se Joana D'Arc, mas ela nunca soube disso. Era tão linda e educada, que não apenas eu, mas muitos colegas da sala tinham o mesmo sentimento, por isso havia uma disputa imensa de chegar mais cedo na escola para ocuparmos uma carteira o mais próximo dela possível. De vez em quando, por sorte, ganhávamos um sorriso, e apenas isso alimentava a esperança que um dia ele pudesse se apaixonar, mas sem chances! Nem beijo na boca havíamos experimentado ainda. Nem mesmo sabíamos como fazê-lo. Hoje, se ela estiver lendo isso, ou seus descendentes, certamente já é uma senhora, avó, cheia de netos, que ela releve esta menção com meu sincero respeito para uma época sem malícias. É apenas uma doce e inocente lembrança que fui buscar nas profundezas do meu consciente, despertado pelo clima de Ouro Preto. Para resolver este problema da falta de beijo a única solução foi arriscarmos uma ida na "Coréia", nome dado à Zona do Meretrício, em Ouro Preto, bem perto do centro, onde pedimos algumas das donzelas para nos ensinar alguma coisa sobre beijar. 

 Que isso, pirralho! — caíam na risada. — Saiam fora daqui seus pestes. Querem nos arranjar problemas com seus pais?

E assim crescemos todos, cercados de muitos artistas que pintavam ao ar livre na cidade, pessoas marcantes, a influência direta da igreja e dos padres. Meu pai que trabalhava fora e voltava em casa de quinze em quinze dias, e até com mais espaço de tempo, para mim era muito confortável ficar nas ruas de manhã à noite, pois a coitada da minha mãe não dava conta de todos nós. Foi uma infância onde não tínhamos nada que o progresso e as tecnologias de hoje oferecem, que aprisionam o ser humano em uma sala.  Tínhamos a liberdade em um ambiente saudável e cheio de lugares ao ar livre por onde aventurávamos. Éramos do Bairro do Rosário, mas permeávamos por Ouro Preto toda, cada beco, cada túnel, cada brocotó de serra, até no Morro do Gabriel para onde íamos de Maria Fumaça. Foram bons tempos bem vividos, com boas lembranças e outras nem tanto. Tenho saudades? Não, já passou. Ficou apenas a história.

Este blog é uma espécie de exercício para testar e reavivar a minha mente, e a dos meus amigos, enquanto vou fazendo a terceira redação dos meus livros os quais escrevo.

http://autormna.wix.com/autor

E como dizia o nosso ex-presidente da república, também mineiro, Juscelino Kubitscheck: eu não me importo de voltar atrás e mudar de ideia, pois como ele, também não tenho compromissos com meus erros – minha memória pode ser enganada pelo tempo. Meus amigos, se souberem de alguma falha, um erro, me escrevam e eu refarei o texto consertando e fazendo jus aos fatos, para que daqui saia um bom registro que documente aquela época.

e-mail: autor.mna@gmail.com 

Fotos antigas, importantes documentos históricos, nesta postagem, algumas são de autoria de Luis Fontana (Ouro Preto), Zélia Gattai, esposa de Jorge Amado (Sartre). Guinard (Projeto Guinard)


Saudações!


Um comentário:

  1. Obrigado por mencionar, mas as fotos não são de minha mãe! Aperece o nome delas em algumas por uma incompetência minha, eles foram inseridos por engano! As fotos antigas de nossa terra são do Luis Fontana!

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